terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Glocalização: Exemplo de como fazer o local entrar no global

Implicações entre o local e o global para o rádio


Por Elane Gomes



O fenômeno da globalização traz para o rádio não só desafios quanto ao conteúdo e à programação, mas também uma verdadeira luta pela sobrevivência, que se dá principalmente porque alguns aspectos dos processos globais caminham, em parte, para direções diferentes das  do rádio. O primeiro tende a conceber a idéia de uma sociedade global, homogeneizada, o segundo, para sobreviver à hegemonia da TV, dos grandes conglomerados e às novas mídias, buscou encontrar saídas e um espaço neste novo cenário, explorando a segmentação e o local.

Segundo Joana Puntel, “a globalização pode ser definida como ‘intensificação das relações sociais em escala mundial, que interliga zonas distantes entre si de tal forma que os acontecimentos locais são modelados sobre fatos que chegam de longa distância e vice-versa’(...) constitui hoje uma das molas centrais da mudança a que assistimos e que se desenvolverá no século XXI”. (PUNTEL, 2008 p. 89).

Embora a globalização ostente um discurso de respeito pela autonomia de povos e nações, “o conceito Estado-Nação está em declínio, e a sociedade global em formação. Tudo o que é local, regional e continental é determinado pelos movimentos da sociedade global em plena expansão”. (PUNTEL, 2008 p. 90).

Essa tendência exige um novo critério e mais uma vez, uma nova estratégia para o rádio de modo que ele possa se enquadrar aos novos ambientes e à cultura que também vai se configurando com a globalização.

A sociedade atual tem um outro tipo de relação com os meios de comunicação. O rádio por sua vez, precisa se reestruturar e se readequar a este ambiente. A nova cultura criou nas pessoas a habilidade de estar em qualquer lugar, conectada em algum aparelho de mídia, que a leva também a outros espaços. Elas tiram fotos que imediatamente já estão nas redes sociais e podem ser vistas por pessoas de culturas, línguas e regiões geográficas diferentes. Quem escuta, quer também ver, quem assiste já quer comentar e compartilhar, quem lê num blog, pode imediatamente acrescentar algo ao texto. A sociedade não só recebe, mas gera conteúdo, critica e publica suas opiniões. A idéia de um receptor passa ser agora a de um “usuário”. Estes são apenas alguns exemplos que mostram que, na sociedade global, um mesmo indivíduo caminha pelas diversas plataformas midiáticas, interage, consome e produz.

Essa sociedade traz encarnada o imaginário simbólico, gerado por este tipo de comunicação midiática que favorece a globalização. Os meios de comunicação tradicionais estão buscando se enquadrar a estas novas estruturas.

Redes Via Satélite

Para o rádio, uma das grandes influências da era global foi a criação e  o lançamento do primeiro satélite para a comunicação, em 1964, o Intelsat, para gerenciar vários satélites de comunicação e prover a teledifusão de imagens  e telefonia. Tal serviço ajudou a ampliar os mercados neste setor. A partir daí dão-se início às operações em rede via satélite que também globaliza a transmissão radiofônica.

Muitas  emissoras cruzam as fronteiras regionais e locais, surgem as parcerias  e abre-se um mercado amplo de ouvintes e anunciantes. Criam-se as redes de rádio e grandes empresas alcançam hegemonia. As emissoras operam numa política de interdependência visando um menor custo e maior lucro. Não se pode deixar de conceber este tipo de transmissão via satélite como um fenômeno global.

Algumas emissoras, que não fazem parte de um grande grupo de comunicação, podem decidir entrar em rede com ele, comprando apenas alguns programas. Dentre elas, algumas optam por comprar alguns poucos pacotes e manter uma programação regional. Para não se afastar dos assuntos locais e continuar  prestando serviços.

É possível ver neste caso uma saída para o rádio. O mundo global amplia a prática de parcerias como forma de agir e é esta a idéia implícita no formato de operação em rede.

Rádio na internet

O estar no espaço da internet é uma das mudanças que gera uma reestruturação também na forma de interatividade usada pelo meio. Um exemplo dessa mudança seria o fato de hoje as pessoas “assistirem” a um programa de uma rádio convencional pela internet. Muitas emissoras, até mesmo locais, têm usado do recurso da imagem, através da webcam no estúdio para conquistar uma nova audiência neste espaço. Aqui, os programas podem ser ouvidos e “assistidos”. Muda-se o conceito de rádio.

Mas tanto na operação em rede via satélite quanto na internet  as preocupações com a identidade local continuam e em ambos os casos algumas saídas são interessantes: uma rádio  de uma determinada  cidade, que decide transmitir um programa sobre este lugar para a cultura de outros países, onde lá haverá pessoas desta tal cidade, conseguirá criar no imaginário deste grupo a ideia  de estar de volta à sua pátria. É a forma de trazer o local para o global. A este processo dá-se o nome de glocalização. Na internet as rádios locais têm esta mesma possibilidade. Uma rádio que adota uma programação local, na web, vai atingir um público que nunca antes alcançaria no tipo de transmissão convencional.

Exemplos de local articulado no global


Debruçando-se sobre este aspecto, pesquisadores revelam que as emissoras pela internet passam “a ter a possibilidade de serem ouvidas por outros pequenos grupos espalhados geograficamente em uma comunidade virtual.” (TRIGO-DE-SOUZA, Rádio & Internet: O porquê do sucesso desse casamento. In: BARBOSA FILHO, André (ogs.).Rádio: sintonia do futuro, p. 296, 2004).  De acordo com esta afirmação de Lygia Maria Trigo-de-Souza, conclui-se que o local, lançado na rede global, pode formar uma ampla audiência daquele segmento. Por exemplo, uma rádio do Nordeste, que tenha adotado uma programação de músicas da cultura desta região, pode conquistar a audiência de nordestinos espalhados no Brasil e em diversos países, criando assim  um público mundial  formado por pessoas que curtem aquele estilo musical e que são naturais deste lugar do mundo. A emissora continuará sendo segmentada, mas agora terá um público ampliado e, por outro lado, os anunciantes também terão uma clientela expandida. Este fenômeno vem sendo chamado de hipersegmentação ou também glocalização. 

Assim como vem sobrevivendo trabalhando o local/regional. É possível que, na internet, o rádio também se desenvolva assim, - embora ela seja uma rede mundial - pelo fato de despertarem o interesse de pessoas em diversas partes do mundo por aquele local que a rádio comunica. As emissoras locais na internet servirão como um meio de recrutamento. Por isso é que, para os mais otimistas, o rádio não precisa perder o regionalismo mesmo estando nesta mídia de alcance mundial.

Elane Gomes
Fb/ reinventandooradio

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